O primeiro painel do quinto e último dia da Expo Cidades Criativas Brasileiras foi “Influenciadoras: Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha”. Mediado pela produtora da VTV SBT, Fernanda Paes, a apresentação reuniu no palco Taynara Dias, da ONG Instituto Família Chegados e do projeto Favela Fashion Dique, Luísa Marques, mulher trans e preta que trabalha com Comércio Exterior, e Lilian Cruz, que escreve romances LGBTQIA+ e tem um canal de educação no YouTube.

Taynara foi a primeira a falar e contou que sua experiência como influenciadora começou antes de ela chegar às redes sociais. Nos projetos dos quais participava como articuladora social, percebeu que seu jeito mexia com as meninas que, apesar de se espelharem nela, não se viam representadas. “Elas achavam meu cabelo bonito, mas o delas, não.” Formada em logística, há três anos tomou coragem e pediu demissão do emprego para trabalhar com projetos mais alinhados aos seus valores. Modelo desde os oito anos, criou o Favela Fashion Dique, um projeto social e pedagógico que mobiliza a comunidade por meio do poder transformador da moda. “O meu trabalho é sobre isso:  sobre onde a gente ainda vai chegar. Sobre ser representatividade para meninas e aprender todos os dias com elas também.”

Luísa Marques conta que começou a transição de gênero aos 15 anos e que se considera mais influenciadora no seu dia a dia corporativo do que nas redes sociais. Trabalhando com o que sempre sonhou, comércio exterior, ela se diz muito feliz e acolhida num departamento com mais de 250 pessoas. “Estudei muito e não foi fácil chegar até aqui, mas sinto que abri portas para que pessoas como eu entrem em qualquer lugar sem constrangimento.” Ela discorda de que só a prostituição e a marginalidade sejam opções para pessoas trans: “Foi a minha vivência que me constituiu, e acho que é por meio da educação que a gente pode chegar aonde quiser.”

A influenciadora Lilian Cruz, aprovada em 13 faculdades e em 4º lugar num vestibulinho para a ETEC, decidiu criou um canal no YouTube para compartilhar suas estratégias de estudo. “Não pense que é fácil ligar a câmera e começar a falar, mas o canal cresceu rápido e organicamente, nunca investi nada para promovê-lo”, revela. Com mais de 120 mil inscritos, ela sabe que seus vídeos são úteis na aprovação de centenas de pessoas. Durante a pandemia, “para não enlouquecer”, Lilian decidiu transformar as noites em claro numa insônia produtiva e começou a escrever romances LGBTQIA+. Sem contar a ninguém, subiu o primeiro título numa plataforma online. Com o crescimento dos acessos ela se sentiu encorajada a lançar outros títulos. “Recebi retornos de quem se assumiu depois de ler meu livro. Só isso, já vale a pena.”

Taynara conta que precisou de um bom tempo para perceber que sofria racismo. “Eu pensava: a pessoa me acha chata, não gosta da minha conversa, mas nunca achei que o problema fosse a cor da minha pele.” Lilian revelou que sentia a mesma coisa e, só recentemente, percebeu se tratar de preconceito racial. “Quando comecei a escrever me escondia atrás de pseudônimos, mas a gente precisa reconhecer nosso valor!” Hoje, ela se comporta de maneira diferente. “Se sinto preconceito, ergo o queixo, coloco os ombros pra trás e piso firme, para mostrar que eu posso estar onde eu quiser.”

Na opinião de Taynara, as crianças de hoje estão crescendo mais fortes, e deu como exemplo a reação da sobrinha de oito anos diante do comentário preconceituoso de um colega de classe sobre seu cabelo: “amigo, melhora isso aí”. “Nessa idade, eu me sentia invisível”, admite. Surpresa com a revelação, a mediadora completou: “No meu tempo, quando isso acontecia, eu ia chorar no banheiro”.

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