Para os quatro convidados, falta ainda capacitação para cidadãos gerarem renda, qualidade com ética e conduta nas empresas, além de responsabilidade para ir além de meros sonhos

Orlando Margarido – 22/07/22

Uma constatação unânime entre os quatro convidados do painel ESG: Avanços e Desafios pode ser resumida de forma didática. Para esses envolvidos com o universo corporativo ou terceiro setor sua preocupação com a sustentabilidade, o `G`precisa conversar mais com o `S`, ou seja, a governança tem de sintonizar melhor com o social, até aqui razão de conflito. “As partes, digamos assim, têm de conversar, pensar em parcerias, em dimensão mais ampla como já se dá com os ODS”, apontou Alfredo Cordella, presidente da ONG Rede Cidadania, em Santos, acompanhado pelos colegas de palco. Ele cita os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma ação global com prazo até 2030 para combater questões como miséria, fome e proteção ao planeta, para considerar um capitalismo tangível também na esfera ESG, que equilibre os interesses de investidores e acionistas de empresas com a preocupação sustentável. “Gosto de lembrar o escritor uruguaio Eduardo Galeano quando ele fala da importância da liberdade para realizar sonhos, mas nesse caso tem que vir junto à responsabilidade, se não corremos o risco de se tornar uma utopia”.

Com moderação da secretária adjunta de Educação da cidade, Maria Helena Marques, o encontro ainda teve a participação de Alcino Therezo, diretor de Pessoas da DP World, Hudson Carvalho, membro de conselho de Gestão de Startup, e de Paulo Queija, consultor e facilitador do Sebrae nacional. Foi este último que deu início à conversa a partir de uma interrogação sobre os desafios na área. Queija vê uma evolução na esfera pública e privada quanto ao conceito ESG, mas ressalta que ainda é tímida. Em especial na pública, faltam iniciativas de capacitação e liderança de geração de renda e procedimentos auto-sustentáveis para se criar cidadãos com independência. “Para isso precisamos de facilitadores, projetos e líderes que trabalhem com a comunidade”, defendeu.

Ele exemplifica um caso no interior de São Paulo envolvendo trabalhadores de canaviais onde não se encontram grandes usinas e canavieiros alocados em torno dessas sedes. “A usina paga impostos à cidade onde está localizada e isso retorna de algum modo aos trabalhadores, em assistência social, saúde, enquanto aqueles distantes dela ficam à mercê de todo tipo de impacto, como a automatização do processo”. Daí, arremata, criar estratégias para que gerem sua própria renda, sem depender do estado.

No que toca à iniciativa privada, Hudson de Carvalho, na sequência das falas, complementou o colega nessa questão de modo objetivo: “uma empresa tem obrigação de retornar à sociedade o lucro que esta lhe dá”. Ele também destacou uma iniciativa específica, agora na Baixada Santista, onde 335 milhões de reais saíram dos cofres privados para a limpeza da região de mangue, hoje recuperado e com a volta de várias espécies de aves. “Era um enorme passivo ambiental que tínhamos e nos faz pensar como devemos devolver à natureza os resíduos que produzimos”. Para ele, o desafio está atualmente ligado à prática da qualidade, que no passado era medida pelos selos ISO, e hoje deve estar embutida no “G” da governança e no “E” das questões ambientais. “As empresas não podem ir ao mercado ESG sem um comitê de ética, um código de conduta, respeitando a legislação e com boas práticas de negócio”.

Alcino Therezo deu continuidade ao que se tem ainda para enfrentar no universo ESG a partir de dois eixos de transformação. O primeiro a respeito do capital de gestão para capital de criação, e outro sobre diversidade, no que se refere a gênero, por exemplo, que deve ser substituído por igualdade. “A diversidade já está aí, é passado”, frisa. “Agora temos que trabalhar condições iguais para mulheres que estão na liderança”. Ele diz estar estudando a economia criativa e percebeu um olhar central por parte das empresas sobre a economia e não no que poderiam criar a partir da educação para o “S! do social. “É um modelo de gestão que não respeita as demandas cada vez mais amplas de populações, tão distintas; é preciso apostar na conscientização desse ambiente empresarial para não seguir com preconceitos”. Para ele, não é mais uma obrigação das empresas, e sim um direito dos cidadãos. “O pacto global é se juntar a um todo, e para isso o conceito ESG não pode ser encarado apenas como regulações fiscais”, finaliza.

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